Diante da repercussão da reportagem intitulada “Alunos do IFSP estão sem alternativas para retomar as aulas”, veiculada dia 4 de junho pelo Jornal da EPTV (rede de televisão regional afiliada à Globo, com sede em Campinas), manifestamos publicamente solidariedade aos estudantes, familiares e trabalhadores que tiveram seus depoimentos distorcidos na edição final e repúdio ao objetivo da matéria: uma ostensiva defesa do Ensino à Distância (EaD).
Durante 3 minutos e 40 segundos, um festival de informações imprecisas e afirmações tendenciosas buscam manipular a audiência sobre a necessidade de “respostas rápidas” para a retomada do calendário escolar. Do mesmo modo, são apresentadas cobranças e questionamentos sobre a suposta “falta de qualificação” dos professores da instituição. A conclusão da reportagem afirma que “o tempo do Instituto não é o mesmo de pais e alunos que temem perder o ano”, apontando o Ensino à Distância como alternativa.
Em primeiro lugar, acreditamos na importância de dialogar com a sociedade, especialmente com aqueles que pensam que aulas à distância são uma medida justa encontrada por governos e instituições para tentar garantir que os estudantes não percam o ano letivo. Infelizmente, essa ideia é ingênua e pode trazer várias armadilhas.
A ampla utilização do EaD abre um precedente potencialmente perigoso num período em que o governo Bolsonaro tenta de todas as formas sabotar os projetos educacionais do país, atacando docentes, cortando verbas e bolsas estudantis, estimulando o ensino domiciliar, declarando guerra contra estudos críticos e difamando as autoridades científicas.
Ao contrário do que insinua a linha editorial do Jornal EPTV, existem especificidades que não podem ser descartadas ou minimizadas, quando tratamos da questão do ensino remoto. A educação não pode ser planejada só para alguns, ou em privilégio de alguns. A imposição do EaD é a banalização de um instrumento pedagógico, que em certas situações e em determinadas realidades, pode vir a ser um recurso tecnológico importante. Não pode ser tratado como uma “gambiarra educacional”. Não é hora de improviso.
As condições desiguais entre os estudantes, por si só, justificam a impossibilidade do EaD ser assumido como método. Muitos de nossos alunos não dispõem de internet e, muitas vezes, nem de computador. E os estudantes com deficiência que precisam de mediadores e material adaptado, serão atendidos? Quantos de nossos alunos estão no grupo de risco ou são diretamente responsáveis pelos cuidados domésticos de crianças e idosos, ou lidando diretamente com situações de luto? Indo além, muitos dos nossos alunos estão buscando formas de cadastrar suas famílias para a renda emergencial do governo, pois com a pandemia, estão com dificuldades até para alimentação.
Neste contexto, nosso sindicato reafirma a importância da suspensão do calendário letivo. O atendimento aos alunos não deve priorizar cobranças de notas, planejamentos e diários, mas sim proporcionar atividades que possam apoiar e ouvir os jovens, como clubes de leituras, indicação de filmes e discussões, mecanismos complementares que não exijam de docentes e estudantes uma carga desgastante de horas de internet, até que possamos voltar à normalidade e estabelecer o retorno do calendário a partir do diálogo com a comunidade escolar.
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