O quarto ato pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro terminou com ao menos 10 detidos pela Polícia Militar no centro da cidade de São Paulo, neste sábado (24 de julho). De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, foram três na Rua da Consolação e sete nas imediações da Avenida Paulista, local em que o protesto tinha como ponto de concentração.
Entre os ativistas vítimas da repressão policial estava o companheiro Alessandro Emilio Teruzzi, professor do Câmpus Pirituba do IFSP, e também jovens estudantes que participavam de seus primeiros protestos. Por volta das 21 horas do mesmo dia foram todos liberados.
O Sinasefe-SP, através do coordenador estadual Márcio Alves, acompanhou os ativistas prestando suporte durante todo o tempo na delegacia (78º DP), bem como contamos com a colaboração da Bancada Feminista (PSOL-SP) que providenciou assistência jurídica, além da presença da co-vereadora Sílvia Ferraro. O movimento sindical também providenciou que os jovens retornassem para suas casas em segurança.
Precisamos combater e denunciar tais ações, pois lutar não é crime! A Coordenação do Sinasefe-SP repudia a violência de Estado e a criminalização dos que ousam lutar por dias melhores.
Reproduzimos, na íntegra, o relato do companheiro Alessandro Teruzzi, divulgado através das redes sociais. Confira!
Hoje, 24/07, estava indo na manifestação que ia começar na avenida Paulista, no centro de São Paulo, mais um momento de luta popular para tirar o presidente genocida. Enquanto subo a pé pela consolação, vejo mais pra frente um monte de policiais militares, no mínimo 15, revistando alguns jovens militantes (logo em seguida, descobrirei que são 5 companheir@s). Passo pela calçada no meio dos policias e o mesmo tratamento é reservado a mim: me fizeram alargar as pernas, cruzar as mão na cabeça e me revistam, apertando de um jeito no mínimo inapropriado os meus genitais. Revistaram a minha mochila e os meus bolsos.
No final, falaram que tudo isso estava sendo feito para a minha segurança – nos quarteis, além das práticas de tortura, ensinam um macabro sentido de humor! Também, falaram que podia ir. Me afastei um 10m e comecei a espalhar mensagem pelas redes militantes no zap, pedindo socorro pelo que estava acontecendo e para que outr@s militant@s viessem para impedir o arbítrio policial que estava ocorrendo. Infelizmente, mal passou um minuto que os policiais já tinham virado mais de vinte: aqueles 5 jovens deviam mesmo ser perigosos serial killer, dado o tanto de policiais de arma na mão que foram chamados a detê-los! Assim, vi os corajosos policiais algemar @s 5 militantes… sim, ALGEMAD@S!
Uma militante de 15 anos e quatro militantes de pouco mais de vinte estavam sendo algemados somente por estar indo numa manifestação contra um governo genocida e corrupto (achava que fosse um direito constitucional se manifestar contra o governo, mas evidentemente nunca saímos da ditadura…). Vendo a violência da cena, voltei a me a aproximar aos policiais perguntando porque estavam algemando e carregando no carro est@s militant@s. As respostas primeiro foram brutais: “Você é advogado? Não? Então cai fora! ”, “A gente não tem que dar satisfação a você”…Poxa, e eu que achava que numa democracia, pelo menos, a polícia tivesse que responder das suas ações! Depois, devido a minha insistência em pedir explicações decidiram… de me prender também! Me algemaram (sim, me ALGEMARAM, sem que eu estivesse apresentando nenhuma ameaça, sem que estivesse com arma alguma) e nos enfiaram dentro dos SUV da PM. De maneira totalmente absurda, ilegal e perigosa, jogaram 3 de nós, um em cima do outro, no porta-malas da viatura.
Com eu empreendimento de forças policiais digno de quando prenderam Al Capone (motoqueiros escoltando as viaturas onde estávamos presos e algemados), nos levaram primeiro num quartel do lado do parque Augusta e depois no quartel 78, que é o próprio onde levam tod@s @s pres@s politic@s das manifestações da Paulista (O que indica, entre outras coisas, que os próprios PM eram incompetentes e nem sabiam pra onde nos levar).
Em todo este processo inúmeros policiais atuaram constantemente violência simbólica contra a mim inadmissível: piadas e comentários sobre o fato de ser estrangeiro (xenofobia), comentários sobre um adesivo da bancada feminista (machismo e homofobia: um PM leu em voz alta o ‘bancada feminista’ e, dando uma cotovelada ao outro, exclamou rindo: “Está explicado! ”). Constantemente, os policiais gritavam conosco, ficavam com a arma na mão, atrasavam idas ao banheiro e não deixaram que chamasse os advogados do movimento (somente consegui alertar @s companheri@s graça ao advogado da defensoria pública que ligou para a minha esposa 3 horas depois da prisão).
A gente não podia ficar sentado sem que um policial mandasse a gente mudar de posição e abaixar a cabeça; várias vezes um policial me chamou de ‘idiota’; muitos PMs nos mandar calar a boca e por fim, eles barganharam o fato de me tirar as algemas com o fato de eu parar de “causar”: é isso mesmo, o meu direito de não estar algemado era transformado em moeda de troca para que parasse de perguntar e fazer valer os nossos direitos. A gente tanto se orgulha com a expressão “estado de direito”, mas quando você está algemado, num distrito policial, sem advogado, sem poder ligar, totalmente à mercê das vontades de um bando de pessoas armadas que sabem de gozar de grande impunidade, o arbítrio e a prevaricação reinam soberanos.
Finalmente, após várias horas (fomos detidos as 16 e fomos soltos depois das 21) e graças ao trabalho dos advogados do movimento, da defensoria pública e de tod@s @s comanheir@s que se mexeram e que vieram ao quartel para esperar a nossa libertação, @s 5 militantes e eu fomos soltos e pudemos voltar para casa. Com certeza, a nossa libertação foi devida a grande rede de solidariedade que foi ativada (a minha esposa, Adriana, teve um papel imprescindível nisso) e que mobilizou militantes, ativistas, vereadoras de diferentes movimentos e associações.
Além do desrespeito, da violência que os PM mostraram, além da inutilidade e da falta de fundamento da nossa prisão (ninguém tinha feito nada a não ser… estar indo à manifestação!), gostaria de terminar destacando a bravura, a firmeza que @s companheir@s mostraram em enfrentar os abusos e as intimidações da PM: os energúmenos armados e fardados foram aparecendo cada vez mais pequenos, pávidos e mesquinhos frente a coragem e a grandeza que esta nova leva de militantes – que vieram a muita custa lá da periferia da grande são Paulo – mostraram para eles (e para mim). Viva a solidariedade entre @s oprimidos! Ditatura, repressão e PM nunca mais! Fora Bolsonaro!
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