Nos dias 7 e 8 de março, em São Paulo, realizamos o Primeiro Encontro de Mulheres do Sinasefe-SP. 

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ENCARTE ESPECIAL_PRIMEIRO ENCONTRO DE MULHERES DO SINASEFE-SP

Neste encarte especial destacamos:

-O Encontro em Números;
– O Encontro em Imagens;
– Carta-Manifesto: Organizar a luta das mulheres do IFSP, em unidade com o conjunto da classe trabalhadora, para enfrentar os retrocessos;
– Propostas de Encaminhamentos;
– Mesa de Saudação e Mesa de Debates;
– Participação do Sinasefe-SP na manifestação do dia 8 de março, na Avenida Paulista;
– Creche: Um debate classista e feminista;
– Homenagem: Delacir Poloni, presente!

Carta-Manifesto: Organizar a luta das mulheres do IFSP, em unidade com o conjunto da classe trabalhadora, para enfrentar os retrocessos

Vivemos uma conjuntura mundial marcada por uma forte polarização social, política e econômica. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro não esconde suas intenções reacionárias. Terá que enfrentar as mulheres. Nesta carta-manifesto, apresentamos aspectos centrais levantados durante do Primeiro Encontro de Mulheres do Sinasefe-SP, realizado dias 7 e 8 de março de 2020, em São Paulo.

O evento contou com a participação de mais de 40 mulheres, de 15 campi do IFSP, além da participação de companheiras do IF-Sul. Contribuíram para os debates e mesas representantes dos mais diversos setores e movimentos sociais, em destaque: Núcleo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade do IFSP, Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas do IFSP, movimento estudantil do IFSP, além da representação da categoria petroleira e liderança índigena Pataxó. No dia 8 de março, o Encontro foi além dos muros do Instituto Federal. As participantes foram às ruas, na tradicional manifestação do Dia Internacional da Mulher, na Avenida Paulista, protestar por direitos e denunciar os ataques do governo Bolsonaro.

O conteúdo ideologicamente moralista e, sobretudo, machista expresso nas declarações de expoentes do governo Bolsonaro é parte constituinte e necessária de um projeto político que, visando à aplicação de uma plataforma ultraneoliberal, propõe um verdadeiro retrocesso que inclui o fim de qualquer resquício de direito social e trabalhista, o fim dos serviços públicos e a entrega completa do país ao capital estrangeiro.

A desresponsabilização do Estado no cuidado com crianças – como a falta de creches e falta de vacinas -, atinge de maneira mais profunda as mulheres, em especial as negras e pobres. O fim do Estado como provedor de direitos sociais, a negação de direitos civis básicos, abandono da saúde pública, racismo estrutural, entre outros elementos fazem parte de um projeto: aumentar os patamares de exploração no Brasil através de níveis diferenciados de opressão. Ou seja, a naturalização ideológica de papéis sexuais e submissão das mulheres, ao mesmo tempo que busca a destruição de laços de solidariedade entre potenciais aliados, reforça os ataques do capital.

O projeto de retrocessos sociais e políticos atinge em cheio as mulheres. Estamos cada vez mais adoecidas fisicamente e psicologicamente, somos nós que sentimos o desmonte do SUS, o sucateamento da educação, a fila do INSS, os impactos da aprovação da contrarreforma da Previdência, o fim dos projetos de habitação popular e cortes de programas assistenciais, como o Bolsa Família. Somos as primeiras atingidas pela crescente precarização dos postos de trabalho e recebemos os menores salários para cumprir a mesma função. Somos as principais afetadas pelos constantes cortes orçamentários nas áreas da Educação e da Saúde.

No que diz respeito às diferenças de gênero e relações de trabalho, as servidoras públicas, na prática, padecem da mesma situação que as trabalhadoras privadas. Continuamos com remuneração inferior em relação aos homens e em cargos menos relevantes, embora tenhamos grau superior de escolarização. A aprovação no concurso público, que deveria conferir mais segurança de estabilidade, fundamental para o planejamento familiar, está por um fio. Se aprovados os projetos que estão na ordem do dia, que visam acabar com a estabilidade, diminuir salários e acabar com todo tipo de direitos adquiridos – como as progressões – seremos nós, mulheres, as primeiras a sentirmos as consequências.

Com o fim da estabilidade no serviço público, a tendência é o agravamento de situações de assédio moral e sexual. As dificuldades para denunciar/reportar, o medo da violência institucional – acompanhados dos sentimentos de culpa e vergonha – e constante descredibilização da palavra da vítima serão somados ao medo de perder o emprego. Não são raros os casos de mulheres em cargos de chefia que reproduzem atitudes machistas, agravando ainda mais esse quadro.

O resultado, inevitável, será também maior adoecimento das mulheres. Afinal, aquilo que nós já sabemos e vivemos, pesquisas confirmam: existe uma marca de gênero nas vítimas de assédio e recai mais sobre as mulheres, em especial as mulheres negras. Infelizmente, o Instituto Federal de São Paulo não foge à regra. Inclusive com crescentes denúncias de assédio contra estudantes, ainda mais silenciadas pela fragilidade da posição hierárquica em relação aos professores e funcionários.

Não podemos deixar de citar o aumento exponencial dos casos de feminicídio no Brasil, estupros, agressões, bem como casos de lgbtfobia e racismo. Bolsonaro ataca os movimentos sociais porque certamente teme a resposta das ruas, sabe que se, por um lado, há um setor da sociedade que se sente representado em suas ideias conservadoras e violentas; por outro, há todo um país que ainda acredita e defende a democracia, a Constituição e os direitos sociais e políticos de todos os movimentos e pessoas que lutam por justiça social e igualdade.

É por isso, também, que o alto escalão deste governo tanto ataca as mulheres feministas – é porque sabe que é no seio deste movimento que está um dos setores mais férteis e questionadores do sistema. Nós, mulheres, temos protagonizado vários processos de luta no último período. Estamos nas greves, piquetes, ocupações. Além disso, estivemos na organização dos atos gigantescos do “Ele Não” denunciando o caráter machista, racista e lgbtfóbico do então candidato Bolsonaro. Não houve uma luta contra “as forças do esgoto” desde então, que não tenha tido uma forte expressão feminista.

O ambiente sindical também faz parte dessa conjuntura que precisa ser discutida e transformada. Apesar de ter sido um grande avanço a implementação da paridade na gestão do Sinasefe-SP, a criação da Pasta de Combate às Opressões e a própria realização do Primeiro Encontro de Mulheres, ainda é longo o caminho que temos pela frente.

Em primeiro lugar, porque de nada adianta apoiar a inclusão das mulheres, mas não refletir sobre a postura em relação a elas. Em segundo, porque mais do que fazer parte da massa, as mulheres querem ocupar um papel de protagonismo e visibilidade, além da necessidade de ampliarmos as elaborações e atuações étnico-raciais e LGBT+.

Estamos de pé na defesa dos avanços dos direitos conquistados pela classe trabalhadora que vêm sendo retirados. Vamos lutar contra a violência e o corte de verbas promovidos pelo governo Bolsonaro aos programas sociais, que fragilizam e colocam em risco a vida das pessoas mais pobres. Caminharemos juntas contra todas as formas de violência, pelo direito à diversidade, à autonomia, à liberdade, pelo direito e soberania de nossos corpos, pelo direito de existir.

Nós não esquecemos que, há dois anos, foi executada Marielle Franco, parlamentar mulher, negra, favelada, que amava mulheres e era de esquerda. Marielle foi assassinada pelo projeto político que representava em seu próprio corpo e até hoje não temos respostas. Exigimos justiça para Marielle e punição aos mandantes de seu assassinato.

Atentas, mobilizadas e organizadas, mulheres do IFSP faremos ecoar nossa voz:
Por nossas vidas, democracia e direitos: Fascistas e machistas, não passarão!