Educação Física está sendo “apagada” dos currículos dos cursos técnicos de nível médio-modalidade integrada

As consequências nefastas das políticas educacionais aprovadas especialmente depois de 2017 já começam a ser visíveis. Coletivo de professores de Educação Física dos Institutos Federais de todo o país, divulgam carta em defesa urgente da Educação Física nos cursos técnicos de nível médio-modalidade integrada, já que, depois da reforma do Ensino Médio e da Base Nacional Comum Curricular, a Educação Física vem desaparecendo dos currículos.

O documento, que já conta com mais de 300 assinaturas, destaca também a contribuição da disciplina para formação emancipatória de jovens acerca dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, envolvendo a diversidade cultural das práticas corporais e a promoção da saúde coletiva, fundamentados na problematização dos marcadores sociais da diferença que atravessam as danças, as lutas, as ginásticas, os esportes, as práticas corporais de aventura, os jogos e as brincadeiras, ambos contextualizados com as demandas de cada realidade comunitária em que se desenvolve e compartilha as aulas de Educação Física.

Acesse o documento em formato PDF com as assinaturas: Carta Institutos Federais_versão final

CARTA EM DEFESA DA EDUCAÇÃO FÍSICA COMO COMPONENTE CURRICULAR OBRIGATÓRIO DOS CURSOS TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO-MODALIDADE INTEGRADA, NOS INSTITUTOS FEDERAIS

O coletivo de professoras e professores de Educação Física dos Institutos Federais de todo o país torna pública essa carta em defesa da obrigatoriedade do componente curricular em todos os anos/semestres/trimestres/bimestres/módulos dos cursos técnicos de nível médio, modalidade integrada ao ensino médio dos Institutos Federais, com carga horária de, pelo menos, duas horas aulas semanais por turma de ensino.

Em virtude dos movimentos reformistas que atingiram o ensino médio brasileiro recentemente, percebemos nitidamente muitos retrocessos sendo efetivados na oferta dos cursos técnicos de ensino médio, modalidade integrada, em todo o Brasil. E, nesse contexto, a Educação Física foi alvo declarado deste desmonte, apelidado sorrateiramente de “flexibilização curricular”. Ministramos aulas com evidente excelência todos os dias para estudantes da classe trabalhadora que vislumbram a real possibilidade de transformação de suas vidas ao ingressarem nos Institutos Federais, os quais oferecem e promovem um ensino médio integrado construído com base em uma política educacional pautada na formação politécnica, cultural e omnilateral do ser humano.

Sem sombra de dúvida, a área de Educação Física contribui de forma robusta com a formação emancipatória de jovens por meio de investimentos pedagógicos que as/os docentes desse componente curricular têm no planejamento e sistematização dos contextos de ensino. Estes engendram processos de leitura de mundo crítica acerca dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, envolvendo a diversidade cultural das práticas corporais e a promoção da saúde coletiva, fundamentados na problematização dos marcadores sociais da diferença que atravessam as danças, as lutas, as ginásticas, os esportes, as práticas corporais de aventura, os jogos e as brincadeiras, ambos contextualizados com as demandas de cada realidade comunitária em que se desenvolve e compartilha as aulas de Educação Física.

Reconhecemos a importância das atividades de pesquisa, extensão e inovação para a formação integral dos/das educandos e educandas. Todavia, desejamos reforçar que o ensino da Educação Física nos Institutos Federais está sustentado em pressupostos teóricos, metodológicos e avaliativos que garantem a formação ampliada e humanizada,que só pode ser efetivada com aulas obrigatórias em todos os anos/semestres/trimestres/bimestres/módulos nos currículos dos cursos técnicos de nível médio na modalidade integrada.

Estamos dispostos a construir uma política curricular nacional para os Institutos Federais com princípios verdadeiramente democráticos, que valorizem os conhecimentos de todos os componentes curriculares de forma equitativa. Reconhecemos que um movimento multidisciplinar/interdisciplinar se fundamenta no pressuposto que precisamos das várias áreas do conhecimento para compreender os fenômenos sociais, considerando as especificidades de cada componente disciplinar. Portanto, defendemos a Educação Física em sua integralidade para a promoção de um ensino que possibilite a ousadia para o desenvolvimento de atividades pedagógicas emancipatórias por meio das práticas corporais. Nessa perspectiva, entendemos que os princípios epistemológicos, políticos e pedagógicos do projeto educacional posto na lei de criação dos Institutos Federais precisam se consolidar ao longo dos anos.

Diante dessa reflexão, escrevemos esta carta para a comunidade brasileira na tentativa de reacender o debate que nos manteve/mantém vivos/as e comprometidos/as com a formação integral das pessoas, com o enfrentamento e superação de todas as formas de opressão e com a transformação da realidade. Como professoras e professores de uma instituição de ensino reconhecida por sua excelência por toda população brasileira, não podemos aceitar o empobrecimento dos currículos, o tratamento desigual das disciplinas nas matrizes curriculares dos cursos técnicos de nível médio, modalidade integrada, e a volta de um projeto educacional que pretende manter as desigualdades sociais vividas pelos filhos e pelas filhas das trabalhadoras e dos trabalhadores do Brasil.

Reconhecemos a necessidade do debate e enfrentamento do desafio que nos é imposto via lei n.º 13.415/17 e pela implementação da Base Nacional Comum Curricular para o ensino médio no ano de 2018. Porém, evidenciamos a urgência e emergência de um fluxo institucional nos Institutos Federais que promova espaços plurais para fomento/modificação/qualidade da política curricular do ensino técnico de nível médio, modalidade integrada. Ao tratarmos sobre currículo em uma instituição como a nossa, não podemos perder o horizonte de interesses, mobilizações e disputas engendrados neste processo. Portanto, quanto maior a abertura para discussões, melhores serão os resultados para a comunidade acadêmica. Ressaltamos que estamos prontos, disponíveis e na expectativa deste diálogo autêntico acerca da obrigatoriedade da Educação Física.

Conteúdo relacionado:

Carta do Coletivo de Docentes de Educação Física do Instituto Federal de São Paulo

Carta de um professor de Educação Física para a Comunidade do IFSP