Meu nome é Daniel Teixeira Maldonado e sou docente de Educação Física do câmpus São Paulo do Instituto Federal. Passei a ser servidor dessa instituição no ano de 2014, depois de lecionar por seis anos na rede municipal e estadual de São Paulo. Durante esse tempo, tive a oportunidade de entender a política educacional dos IFs, construída por muitas mãos de pessoas que acreditaram na formação crítica e politécnica da classe trabalhadora.
Quando passei a entender efetivamente sobre os princípios administrativos e político-pedagógicos dos Institutos Federais, tive a certeza de trabalhar em uma instituição que possibilitava a efetivação de uma educação que poderia transformar a realidade dos jovens desse país. Professores e professoras com dedicação exclusiva, recebendo um salário digno e realizando projetos de ensino, pesquisa e extensão. Além disso, tive a honra de conhecer e aprender com estudantes brilhantes que mudaram a minha forma de ver o mundo.
Especificamente como professor de Educação Física, tive o prazer de dialogar com colegas que organizaram a sua prática político-pedagógica na perspectiva de ampliar a leitura de mundo dos jovens sobre os conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade que envolvem as práticas corporais (esportes, lutas, ginásticas, danças, jogos e brincadeiras) e o corpo. Conheci de perto experiências transformadoras para a vida dos estudantes, que efetivamente tornaram o IFSP uma escola que forma o ser humano de maneira integral.
Ajudei a construir a política curricular da nossa instituição nos últimos três anos. Foram muitas reflexões, embates e debates para produzir um currículo de referência com princípios democráticos, que valoriza os conhecimentos de todos os componentes curriculares de forma equitativa. Conheci professores e professoras que se engajaram nessa luta, pois acreditaram que o projeto educacional do Instituto Federal de São Paulo precisava se manter forte nos seus princípios epistemológicos, políticos e pedagógicos.
Todavia, depois desses anos de luta e muito trabalho, percebo um clima de desânimo, onde muitos colegas que participaram dessa construção curricular não conseguem mais dialogar com os grupos que se encontram no poder, já que a lógica instrumental, tecnicista e acrítica parece ter comada conta dos gestores de plantão. Tenho percebido diversos professores e professoras com sintomas sérios de ansiedade e depressão, que estão vendo a destruição da política educativa mais brilhante da história da educação brasileira por dentro da nossa instituição.
Por conta disso, escrevo essa carta para a comunidade do IFSP na tentativa de reascender o debate que nos manteve vivos como uma instituição de ensino considerada de excelência pela população. Não podemos aceitar o empobrecimento dos currículos, o tratamento desigual das disciplinas de Arte, Educação Física, Sociologia e Filosofia na matriz curricular dos cursos técnicos integrados ao ensino médio e a volta de um projeto educacional que pretende manter as desigualdades sociais vividas pelos filhos e pelas filhas das trabalhadoras e dos trabalhadores do Brasil.
Como um ato de resistência, de um docente que também sente na pele a ansiedade, a depressão e o desânimo, peço que todos e todas que acreditam nessa instituição levantem a sua voz para que possamos lutar pela manutenção do projeto de educação transformadora do IFSP. Como nos ensinou Paulo Freire, as páginas da história não estão determinadas, pois nós somos sujeitos que produzem o mundo. Precisamos resistir.
São Paulo
30 de abril de 2021
Daniel Teixeira Maldonado
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