O Coletivo de Mulheres do SINASEFE-SP, em mobilização permanente, vem manifestar à comunidade do IFSP grande preocupação com a situação das servidoras, das estudantes e das trabalhadoras terceirizadas nos diferentes campi relacionada ao necessário isolamento social – uma das medidas essenciais para a contenção do avanço da pandemia mundial Covid-19 (Novo Coronavírus).
Entendemos que o isolamento social, de acordo com as pesquisas científicas e autoridades sanitárias nacionais e internacionais, é uma medida emergencial e essencial para o controle da curva de contaminação comunitária, proteção dos grupos de risco e para evitar o colapso de nosso sistema de saúde, sendo esta a melhor forma de redução do número de casos letais resultantes da contaminação.
Nesse contexto, reconhecemos a urgência de um olhar responsável, cuidadoso e acolhedor para as mulheres nessa inevitável situação de confinamento, na qual prevalece a persistente desigualdade na realização dos trabalhos domésticos, fruto do machismo estrutural de nossa sociedade. Essa realidade, faz recair sobre as mulheres a responsabilidade exclusiva ou prioritária de tarefas como os cuidados da casa, das crianças, dos adolescentes, dos idosos e pessoas enfermas nas famílias.
Nosso retorno integral ao espaço doméstico – esfera do privado – é marcado majoritariamente pela responsabilidade organizativa das mulheres nas famílias, recaindo sobre a força de trabalho feminina uma enorme carga laboral, devido aos cuidados que este momento requer com as crianças e jovens dispensados das escolas e com as pessoas que compõem os grupos de maior risco. Soma-se a isso o fato de em nosso estado, a maioria das escolas públicas e privadas, encaminharem conteúdos e tarefas de forma virtual para as crianças e adolescentes, exigindo de nós mulheres a responsabilidade de acompanhamento das atividades escolares, transferindo exclusivamente às famílias atividades que são de responsabilidade da sociedade e do Estado. Tal contexto, impõe a nós, mulheres trabalhadoras, um acúmulo excessivo de tarefas, causando sobrecarga de atividades físicas, mentais e emocionais, que historicamente costumam ser invisibilizadas em nossa sociedade.
Nesse sentido, queremos chamar a atenção para o fato de que as exigências institucionais para a manutenção das atividades laborais, das tarefas de estudo e capacitação profissionais, de maneira remota, somam-se às essas responsabilidades desiguais do cuidar, ampliando e precarizando, por sua vez, as condições de trabalho das mulheres nesse momento de crise social alargada.
Os relatos das servidoras do IFSP, que chegam ao SINASEFE-SP, demonstram que questões técnicas de estrutura física dos lares e a dinâmica familiar de acúmulo de atividades confundem e mesclam integralmente as vidas em família, com trabalho e estudos. Nesse quadro, a histórica responsabilização da mulher, que se apresenta socialmente como “culpa” por não exercer todas essas atividades como o exigido, tem levado a uma maior exaustão física e mental das servidoras, das trabalhadoras terceirizadas e das estudantes.
Diante da situação vivida, agregam-se as incertezas desse momento de pandemia e as consequências do isolamento social, que aprofundam os riscos à saúde. Nesse conjunto de cuidados, preocupações e aflições, nós mulheres vivenciamos com elevado grau de tensão a instabilidade conjuntural política em nosso país, onde os empregos, os direitos e até mesmo a integralidade do pagamento dos salários vêm sendo sistematicamente atacados pelo governo federal. Por isso, defendemos ser nosso compromisso, enquanto trabalhadoras da educação e estudantes, a cobrança da adoção de políticas públicas que priorizem proteger a classe trabalhadora, principalmente os grupos mais vulneráveis e invisibilizados socialmente.
Dessa forma, nos vemos cotidianamente atacadas pelo discurso que invisibiliza a elevada carga de trabalho à qual estão submetidas as servidoras e estudantes da Instituição e por isso exigimos das autoridades governamentais e do gestão do IFSP ações de reconhecimento das reais condições do trabalho feminino nessa conjuntura de crise social e um olhar de acolhimento para a situação das mulheres nesse momento instaurado pelo contexto da pandemia.
No âmbito da gestão da crise no IFSP, para nós, é imprescindível que o Comitê de Crise garanta a participação de uma representante mulher, indicada pelo SINASAFE-SP, para que essas questões possam ser apreciadas com a devida relevância, no campo do necessário diálogo permanente.
É preciso que a instituição tenha o diagnóstico da situação das mulheres em isolamento social e discuta abertamente sobre as condições das atividades de trabalho remoto que se impõe sobre as servidoras para que, com cautela, as decisões do Comitê possam respeitar e representar a diversidade e a especificidade de nossa comunidade. Desse modo, as decisões em relação às políticas de gestão de pessoas e educacionais adotadas pelo IFSP poderão incorporar medidas que considere a realidade vivida pelas servidoras, trabalhadoras terceirizadas e estudantes nesse grave cenário em que vive o Brasil.
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