Autor: Márcio Alves de Oliveira, professor do Instituto Federal de São Paulo e diretor de base do SINASEFE-SP

Foi aprovada a REFORMA DA PREVIDÊNCIA que acelera o projeto em curso de destruição da Previdência Pública no Brasil ao inviabilizar na prática aposentadorias e o sustento de famílias pobres, e mesmo de cidades inteiras dependentes economicamente destes valores. Assim como anteriormente foi aprovado os projetos que colocam em curso o fim das leis trabalhistas e dos direitos em geral. Reforma da Previdência aprovada sem maiores resistências, o que anuncia o pior dos mundos, pois o pacote de maldades neoliberal ainda nem mostrou sua pior face, amplamente visível apenas quando essa fase de transição da destruição estiver completada. Quanto menor a resistência, mais rápido e forte esse processo avança! Sem nossa mobilização semestre passado, é verdade, teríamos hoje a Capitalização, golpe derradeiro na Previdência Pública. Uma vitória com gosto de derrota, no entanto, diante das tendências de paralisia e cansaço no segundo semestre.

A irrelevância das centrais sindicais nesse processo (e não só delas) obriga-as a se repensar ou sucumbir na esteira do aprofundamento neoliberal que impossibilita a sobrevivência pela estratégia da letargia burocrática tradicional. Como toda esquerda diz aos tropeções, o movimento sindical, social e político precisam urgentemente convergir mais organicamente suas lutas, e, sobretudo, para potencializar as vozes radicalizadas das bases. E cada um de nós deve tomar esse fazer político como tarefa sua, o que de forma burocrática tendemos a delegar apoliticamente para o outro.

Assim como no Equador e no Chile, e no mundo inteiro, A CONVULSÃO SOCIAL não tem como não estourar no Brasil, mais hora menos hora, diante da violência neoliberal contra o povo ora em curso, acelerada aqui por um governo com um projeto claramente fascista que já mata abertamente em zonas de verdadeiro estado de sitio, como nas favelas cariocas. Convulsão social geral que será um pico de violência ou uma onda organizada que permita construir uma alternativa concreta que supere a violência estrutural que a produzirá?

A resposta se faz na organização diária das lutas sociais entrelaçadas como parte de uma luta maior contra o Capital e seus títeres de plantão. Também na perspectiva (auto)formativa teórica coletiva e constante de quem faz a luta, para que dimensionemos politicamente o significado das impossibilidades práticas imediatas.

Mas também na capacidade de neutralizar objetiva e subjetivamente em nós a tendência conciliatória abstrata para com um Capital que rompeu a anterior conciliação social ampla e capenga; e que agora concilia, mais uma vez na história, com um projeto violentamente excludente e claramente fascista, visando, assim, o avanço capitalista mesmo diante de uma crise estrutural a qual não podemos deixar passar ideologicamente, na teoria e na prática de luta, por conjuntural. Aqui, os limites históricos da democracia representativa, seja política, sindical e mesmo dos movimentos sociais, obriga a um ajuste de contas teórico e prático com nossas ilusões eleitoreiras no interior de um pacto social amplo já anteriormente um tanto fictício e que diante da crise estrutural tende a não se sustentar nem mais como ficção.

Processo que impõe a visão de si como militante, sem delegações apolíticas para o outro, e a tarefa histórica coletiva, que passa por cada militante que deve ser cada um de nós, de criar uma alternativa positiva, teórico e prática, de democracia direta; a qual deve ser ampla e coarticulada com efetiva democracia por trabalhadores permanentemente mobilizados lá aonde concretamente produzem e circulam, aonde são reduzidos diariamente, nas relações objetivas e subjetivas, a meros fatores de produção e circulação pelo Capital amplamente fetichizante em seu viés totalitário.

Com um projeto desses em mente, devemos atentar para que no próximo período há lutas sociais, sindicais e políticas fundamentais a serem travadas no Brasil e no mundo. O avanço de leis ilegítimas e antipopulares que permitem a destruição de direitos democráticos, sociais e trabalhistas, da soberania nacional que permite a existência destes, da própria possibilidade da existência de um sentido público efetivo, todo esse desmonte civilizacional rumo a uma iminente barbárie, objetiva e subjetiva, que ameaça inclusive o próprio planeta, exige uma implementação violenta que ainda não se desenvolveu por completo.

Conseguiremos nos preparar, cada movimento e cada militante que não delega o seu ser militante, para criar uma alternativa à aceleração que está em vias de acontecer do processo de convulsão social no Brasil? Não temos tempo de lamentar nossas fraquezas, apenas compreendê-las, pois a luta seguinte já está na próxima esquina perigosa da história, e o esforço por uma unidade ampla mas radicalizada será nosso primeiro grande desafio, teórico e prático, nessa luta contra a eminente barbárie tornada historicamente sistemática.