“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela” Angela Davis
A partir de uma iniciativa conjunta do Sinasefe-SP com os núcleos do IFSP NEABI (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas) e NUGS (Núcleo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade), vamos promover um ciclo de eventos virtuais em homenagem ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: resistir, construir e avançar!
Marque na agenda!
ATO POLÍTICO E CULTURAL
27 de julho (terça-feira)
19 horas
Tatiane Salles – NEABI- IFSP
Maísa Fidalgo – NUGS – IFSP
Elizangela Barros – Sinasefe-SP
Karla Albuquerque – Movimento Estudantil IFSP
Isabel Cruz – Pró-Reitoria IFSP
Participação especial de artistas
LIVE: ANÁLISE DE CONJUNTURA
3 de agosto (terça-feira)
18 horas
Paula Nunes – Co-vereadora de São Paulo – Bancada Feminista (PSOL)
Os eventos serão transmitidos simultâneamente nas páginas do Facebook do Sinasefe-SP, NEABI e NUGS e também no Canal Imprensa Sinasefe-SP do Youtube.
25 de julho é o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha. A data é um símbolo de resistência das mulheres negras. Esta não é apenas uma data de celebração, é uma data em que as mulheres negras, indígenas e de comunidades tradicionais refletem e fortalecem as organizações voltadas às mulheres negras e suas diversas lutas. O Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha foi instituído em 1992 no 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, na República Dominicana. O evento surgiu para dar visibilidade à luta das mulheres negras contra a opressão de gênero, a exploração e o racismo. No Brasil, em 2 de junho de 2014, foi instituído por meio da Lei nº 12.987, o dia 25 de julho como o “Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra”, homenageando uma das principais mulheres, símbolo de resistência e importantíssima liderança na luta contra a escravização, a líder quilombola Tereza de Benguela.
Tereza de Benguela, a grande homenageada do Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, foi uma líder quilombola que ajudou comunidades negras e indígenas na resistência à escravidão no século XVIII. Após a morte do marido, José Piolho, Tereza assumiu o comando do Quilombo Quariterê e o liderou por décadas. Ficou conhecida por sua visão vanguardista e estratégica. Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.
Um breve histórico da luta das mulheres negras no Brasil
A história da organização das mulheres negras em defesa de seus interesses começa no século XIX, com a criação de associações e irmandades, e durante o século XX com a criação de organizações a partir de 1950, o ano em que é fundado o Conselho Nacional de Mulheres Negras no Rio de Janeiro.
O feminismo negro no Brasil, enquanto movimento social organizado, teve início na década de 1970 com o Movimento de Mulheres Negras (MMN), a partir da percepção de que faltava uma abordagem conjunta das pautas de gênero e raça pelos movimentos sociais da época.
Já as décadas de 80 e 90 foram marcadas pelo trabalho de pensadoras como Lélia Gonzalez, Beatriz Nascimento e Sueli Carneiro, que em plena trajetória de redemocratização do país, contribuíram para a consolidação das pautas das mulheres negras por meio de suas atuações acadêmicas e políticas.
Nos tempos atuais, a internet fez emergir diferentes movimentos de mulheres negras por todo o país. A 1ª Marcha das Mulheres Negras, que em 2015 levou milhares à Brasília reivindicando seus direitos, foi um marco dessa mobilização das ruas e das redes.
Resistir, construir e avançar são verbos que as mulheres negras carregam consigo historicamente. Da luta contra a escravidão aos tempos atuais, elas fazem a micro e macro política nas ruas e nas arenas públicas.
Por que ainda é preciso lutar?
O Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha reforça a luta histórica das mulheres negras por sobrevivência em uma sociedade estruturalmente racista e machista.
Mais da metade da população brasileira é negra, segundo dados do IBGE. Porém, essa população, em especial as mulheres negras, protagonizam os piores indicadores sociais no país.
De acordo com o Atlas da Violência de 2019, 66% de todas as mulheres assassinadas no país naquele ano eram negras. Além disso, 63% das casas chefiadas por mulheres negras estão abaixo da linha da pobreza, de acordo com a última Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE.
Contudo, uma vez garantida a vida e superada a miséria, os desafios continuam. Apesar de, pela primeira vez, os negros serem maioria nas universidades públicas, como aponta a pesquisa Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil do IBGE, mulheres negras ainda recebem menos da metade do salário de homens e mulheres brancas no Brasil, independente da escolaridade.
Mulheres negras no contexto da pandemia
A crise causada pelo coronavírus reforçou as desigualdades no país. O vírus não faz distinção de gênero ou raça, mas as desigualdades sim, e elas agravam a situação para algumas pessoas, em especial, mulheres negras.
A pesquisa Coronavírus – Mães das Favelas, realizada pelo Data Favela e pelo Instituto Locomotiva aponta que as favelas do Brasil têm 5,2 milhões de mães, em sua maioria, mulheres negras. 72% delas afirmam que a alimentação de sua família ficará prejudicada pela ausência de renda, durante o isolamento social.
Além disso, 73% dizem que não têm nenhuma poupança que permita manter os gastos sem trabalhar por um dia que seja e 92% dizem que terão dificuldade para comprar comida após um mês sem renda.
Por fim, oito a cada dez dizem que a renda já caiu por causa do coronavírus e 76% relatam que, com os filhos em casa sem ir para a escola, os gastos em casa já aumentaram.
Dessa forma, como podemos falar em uma sociedade realmente democrática quando uma parcela tão significativa da população não tem garantidos seus direitos básicos à vida e a saúde?
Mulheres negras no IFSP: representatividade e reparação
Quando observamos a presença de mulheres negras no quadro de servidoras no IFSP, o cenário, infelizmente, ainda é de invisibilidade e silenciamento. Dentro de um universo marcadamente masculino e eurocêntrico, torna-se urgente trazer para a instituição um debate qualificado sobre as desigualdades, preconceitos e discriminações que recaem sobre mulheres negras, tanto na sociedade brasileira de modo geral, quanto no âmbito do IFSP.
Nesse sentido, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), o Núcleo de Estudos sobre Gênero e Sexualidade (NUGS) e o SINASEFE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica) propõe a realização de uma série de atividades em alusão ao Dia Internacional da Mulher Negra Afro-latino caribenha, com o intuito de contribuir ao debate e somar esforços com ações que visem o combate às opressões sofridas por mulheres negras, contribuindo, assim, para uma reparação histórica de danos advindos do contexto da escravização de africanos e que permanecem, com outras configurações, na sociedade atual.
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